segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O mais importante nunca se conta


Acabei de ler o conto (que é bem curto, por sinal) "Colinas como elefantes brancos" do Hemingway. Nele, um casal fica conversando numa estação de trem sobre uma operação que a moça terá que fazer. O cara fica dizendo o tempo todo que estará com ela e a apoiará, independente da decisão de operar ou não, mostrando que está com ela pro que der e vier. Ela, ao olhar pela janela do trem, compara algumas colinas que estão em seu campo de visão a elefantes brancos, o que, na verdade, é uma metáfora sobre o momento em que estão vivendo. O narrador e os personagens não dizem em nenhum instante qual que é a operação e isso vai prendendo o leitor. O Hemingway comparava a estrutura dos textos literários a icebergs, pois sua maior parte está imersa. É nessa maior parte que está a que interessa e ela nunca é dita. Cabe a quem está lendo tentar captar o que está acontecendo no resto do conto para tentar decifrar ou chegar perto de uma idéia mais próxima.

Essas metáforas não são só para os gêneros literários. Muitas vezes, nós dizemos o mínimo necessário sobre a nossa vida aos outros e acabam rolando histórias mirabolantes na cabeça de quem pouco (ou até muito) conhece sobre você. Assim como nos contos, acaba dando margem ao surgimento de histórias secretas, além da que está sendo narrada (ou vivida), de acordo com a interpretação de cada um...

"Colinas como elefantes brancos" é muito bom. É bem curto e vale muito a pena "perder" cinco minutos para lê-lo.

Pegando uma carona na idéia do iceberg, nós sabemos que quase todos têm problemas, dificuldades ou situações mais sérias, que demandam dedicação e tempo, além de pensamentos intermináveis. O importante mesmo é saber que é necessário enfrentá-los e seguir adiante. O iceberg pode ser grande, mas o que importa é a própria pessoa saber que é possível enfrentar qualquer dificuldade que esteja em seu caminho. Basta querer vencer.

Não é preciso fazer tanto mistério na vida real como se faz nos textos, mas se não houver mistério ou suspense algum, fica tudo tão evidente, tão previsto, que antecipa o fim de tudo e elimina a curiosidade que deve sempre existir sobre as pessoas que te fazem bem e que você quer bem.















(Será que as colinas realmente não podem ser como elefantes brancos?)

3 comentários:

Virginia Zuvanov disse...

Icebergs existem e "aparecem" na vida de todos, o importante é agir com força e determinação.
Aquele q não consegue passar pelas dificuldades acaba se perdendo e deixando pra trás o fundamental, a alegria de viver. Seria como perder o foco da vida.

O mistério é essencial... Qual seria a graça se já soubéssemos o fim da estrada?

ludmilesca disse...

Gostei muito desse post. Acho que a literatura traz exatamente isso, não o evidente, mas os diversos possíveis. A forma afetiva com que vc lida com o poema, o conto, o filme... é realmente o que mais faz sentido, e o que mais importa. Sem essas amarras dos que acham que a criação se esgota no que o autor queria dizer...

ludmilesca disse...
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